Nasceu em Angola (M’banza Kongo), com o nome de Waldemar dos Santos Alonso de Almeida Bastos. Deixou-nos fisicamente no passado dia 10. Tinha 66 anos e era conhecido por Waldemar Bastos.
A guerra e o regime em Angola, obrigou-o à saída e por isso à diáspora. Viveu em Portugal, nos Estados Unidos, e um pouco por todo o mundo. Dizia com paixão que era português, africano de Angola e, um cidadão do mundo. E de quando em vez voltava à sua terra. Tinha esperanças, que um dia, a sua terra fosse o lugar de todos os angolanos.
No período colonial chegou a ser preso pela Pide. Era um militante da justiça, da liberdade e da fraternidade entre os homens. Sonhava por uma Angola unida sem rancores, mágoas ou ressentimentos. Apenas numa perspectiva de “amor ao próximo”.
Cantou África, cantou Angola, cantou e encantou. Com quem ele privou, conheceu um homem simples, franco, crítico e generoso. Sempre com um optimismo e uma confiança, que a fé não o deixava ser diferente. Mais do que o lamento, tinha na análise crítica das coisas, um lado de confiança na construção da sociedade, assente na fraternidade entre os povos. Numa irmandade universal.
O amor e a fraternidade eram-lhe temas caros. E por isso os cantava.
O “semba” corria-lhe na raiz criadora, mas a música de Waldemar é universal. As influências múltiplas, da pop dos anos 60, à música portuguesa e, também de outros ritmos africanos e do mundo, permitiram-lhe criar um estilo próprio. Cantando em português ou em kimbundu, cantava o amor, a terra, a fé e, as coisas simples da vida. A “Velha Chica” dedicada à avó paterna é um hino. Um testemunho biográfico de um tempo a que não queria voltar.
As riquezas poética, melódica e rítmica, das suas composições, granjearam-lhe reconhecimento em todo o mundo. Por isso, foi reconhecido como um músico da chamada “World Music”. Em 1999, o jornal New York Times considerou o disco “PretaLuz”, uma das melhores obras editadas naquele período. E recebeu o prémio de “Artista do Ano” nos World Music Awards. Trabalhou com reconhecidos nomes, de Chico Buarque a Arto Lindsay, de David Byrne à Orquestra Sinfónica de Londres, com quem gravou em 2012 “Classics of my Soul”. E por isso também, tem o seu nome gravado a letras de ouro nas Músicas de todo o Mundo.
Era um amigo da Quadricultura e, foi nosso convidado em dois concertos das “Cextas de Cultura”. O último em 2016.
Perdemos um amigo e a família da música ficou mais pobre.
Quando for oportuno, e numa reconhecida e merecida homenagem, reuniremos amigos e, num grande concerto, lembraremos um dos nomes maiores da lusofonia.
Até sempre amigo Waldemar.